A divisão do Oriente Médio (entendendo os motivos do conflito Parte 1)

 

Como Foi Feita a Divisão do Oriente Médio


Introdução

A divisão do Oriente Médio é um tópico de grande relevância histórica e geopolítica. Neste artigo, vamos explorar em detalhes como essa divisão foi realizada e as implicações que isso teve na região. Vamos abordar o processo de divisão durante e após a Primeira Guerra Mundial, os acordos e tratados que moldaram as fronteiras e os desafios que a região enfrenta até hoje.

O Contexto Histórico

A Primeira Guerra Mundial

A divisão do Oriente Médio começou a tomar forma durante a Primeira Guerra Mundial. Nessa época, o Império Otomano ou império Turco-Otamano controlava grande parte da região, incluindo territórios que hoje correspondem a países como Turquia, Síria, Iraque, Jordânia e Líbano.

O Império Otamano começou a ruir no século XIV (16), em 1683, quando o seu exército tentou tomar a cidade de Viena, na Áustria. Sem sucesso, a batalha perdurou por um século com países europeus e o império Otamano perdeu grande parte de seu território.

Mas sua grande queda veio na primeira guerra mundial (1914-1918) quando os Otamanos se aliaram a Alemanha e foram derrotados e com isso foram obrigados a assinar o Armistício de Mudros que fazia com que os vencedores ficassem com porções territorias dos países derrotados. Houve resistências em algumas regiões que se aproveitaram dessa ocasião para declarar a sua independência, como o caso de Anatólia, liderada por Mustafá Kemal. Somente então em 1923 se forma a Turquia.

Os Acordos e Tratados

Acordo Sykes-Picot

Um dos acordos mais importantes que influenciaram a divisão do Oriente Médio foi o Acordo Sykes-Picot, assinado em 1916 entre o Reino Unido e a França. Este acordo estabeleceu áreas de influência para essas duas potências na região, desenhando linhas no mapa que definiriam as fronteiras de futuros estados.

Tratado de Sèvres

O Tratado de Sèvres, assinado em 10 de agosto de 1920, foi um acordo internacional que teve um impacto significativo na reorganização do Oriente Médio após o fim da Primeira Guerra Mundial. Este tratado foi parte de uma série de tratados e acordos que visavam a divisão do Império Otomano, que havia sido derrotado pelas Potências Aliadas na guerra.

  1. Desmantelamento do Império Otomano: O Tratado de Sèvres marcou o desmantelamento do vasto Império Otomano, que havia governado grande parte do Oriente Médio e do Sudeste Europeu por séculos. Como resultado, o Império Otomano perdeu territórios significativos.

  2. Criação do Curdistão: Um dos aspectos mais notáveis ​​do Tratado de Sèvres foi a disposição para a criação do Estado do Curdistão. Este seria o primeiro passo em direção à independência dos curdos, um grupo étnico que havia sido historicamente dividido entre várias nações, incluindo Turquia, Iraque, Irã e Síria.

  3. Criação da Armênia: O tratado também previa a criação de um Estado armênio independente, em reconhecimento aos direitos nacionais armênios e ao desejo de independência após anos de opressão sob o domínio otomano.

  4. Demilitarização e controles estrangeiros: O Tratado de Sèvres impunha limitações severas à soberania da Turquia, que estava sendo reconfigurada como uma república após a queda do Império Otomano. Parte dessas restrições incluía a presença de comissões internacionais de controle em várias regiões turcas, além de desmilitarização de partes do território turco.

  5. Redefinição das fronteiras: O tratado estabeleceu as novas fronteiras de muitos estados recém-formados na região, incluindo a Turquia, a Síria e o Iraque. Essas fronteiras, em grande parte, moldaram as fronteiras modernas desses países.

É importante observar que o Tratado de Sèvres acabou enfrentando desafios significativos na prática. A Guerra de Independência da Turquia, liderada por Mustafa Kemal Atatürk, que se opôs às disposições do tratado, levou à renegociação dos termos. O resultado foi o Tratado de Lausanne, em 1923, que substituiu o Tratado de Sèvres e reconheceu a República da Turquia sob novos termos.

As Fronteiras em Mudança

A Criação de Novos Estados

Após o fim da Primeira Guerra Mundial e a derrota do Império Otomano, a região do Oriente Médio passou por mudanças significativas na sua configuração política. A criação de novos estados foi uma das principais consequências desse período de reorganização. Abaixo, detalharei como alguns desses novos estados surgiram:

  1. Israel: Um dos estados mais notáveis ​​criados após a Primeira Guerra Mundial foi Israel. Em 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou o Plano de Partilha da Palestina, que previa a criação de um estado judeu e um estado árabe na região. Isso levou à proclamação do Estado de Israel em 1948. No entanto, a criação de Israel também gerou conflitos e tensões contínuas com os palestinos e outros estados árabes.


  2. Iraque: O Iraque emergiu como um estado independente após a Primeira Guerra Mundial, com a queda do Império Otomano. O país foi inicialmente colocado sob mandato britânico, mas ganhou independência em 1932. A criação do Iraque como estado independente foi significativa para a região, embora tenha enfrentado desafios étnicos e religiosos devido à diversidade de sua população.


  3. Síria e Líbano: Após o fim da Primeira Guerra Mundial, a região que agora compreende a Síria e o Líbano foi colocada sob mandato francês. Esses mandatos resultaram na criação de dois estados distintos, a República Árabe Síria e a República Libanesa, que obtiveram independência em 1946.


  4. Jordânia: A Jordânia, originalmente conhecida como Transjordânia, foi estabelecida como um emirado sob controle britânico e governada pelo emir Abdullah. Em 1946, ela ganhou independência e se tornou o Reino Hachemita da Jordânia.

Além disso, a criação de Israel gerou um conflito prolongado com os palestinos, que reivindicam parte das mesmas terras. Os conflitos territoriais e étnicos, aliados a intervenções estrangeiras, têm sido uma característica constante na região desde então.


Desafios Étnicos e Religiosos

A divisão do Oriente Médio foi um processo complexo e controverso que teve um impacto duradouro na região. Os acordos e tratados estabelecidos durante e após a Primeira Guerra Mundial moldaram as fronteiras e as dinâmicas políticas da região, criando desafios significativos. A compreensão desse processo histórico é essencial para entender as questões atuais do Oriente Médio e as tensões geopolíticas que ainda existem.

A complexidade da região vai além das fronteiras desenhadas no passado, e o entendimento das dinâmicas culturais, étnicas e religiosas é fundamental para uma análise completa.



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